quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Lembranças Douradas

Naquele momento, começou a pensar na sua relação com o dinheiro. Ah, o dinheiro. A raiz de todo o mal. O vil metal. Grana. Capital. La plata. Bufunfa. Já deu pra entender.
Era apenas um garoto, talvez com 8 ou 9 anos, quando nasceu seu primeiro empreendimento: uma barraca de limonada. Como as vendas não deram muito certo, aproveitou os limões para espremer na cara dos coleguinhas, que lhe pagavam para não fazer mais isso. Ganhou o suficiente para comprar toda a coleção do Cold Wheels.
Alguns anos depois, já adolescente, tornou-se administrador de site de pornografia. Com 5 milhões de acessos por dia, conseguia uma bela bolada com anúncios. A maioria era sobre métodos para aumento do pênis. Após a venda do site para um grupo de russos excêntricos, usou o dinheiro para viajar o mundo. Roma, Paris, Londres, Pirapora do Bom Jesus. Passou uma semana em cada um desses lugares.
Voltando à sua cidade natal pobre e fudido, morou na rua e pediu esmola para comprar comida. Se afundou no vício. Jogava Candy Rush o dia todo, todos os dias. A vida já não fazia sentido. Até aquele momento em que tudo mudou. Resolveu jogar na loteria. Ganhou. Acertou a quadra na Mega-Sena. Gastou tudo em vidas no aplicativo. Na verdade nada mudou. Eu disse que tudo tinha mudado? Me enganei.
Até que uma vez pediu esmola para um rico empresário chamado Saulio Santos, que se comoveu com sua história e o contratou como segurança particular. Com o novo salário, comprou roupas e entrou para um programa de recuperação para viciados pela internet. Fazia as tarefas de desintoxicação em uma aba do navegar enquanto jogava em outra. E assim seu dinheiro nunca durava.
Trabalhando como segurança, começou a ficar conhecido no meio artístico como o cara que convenceu o Sr. Saulio a jogar Candy Rush e Calmy Birds. Fazia muitos bicos e aos poucos foi se tornando muito bem de vida. Comprou uma casa, um carro, um iate e figurinhas do campeonato brasileiro. Tinha tudo que sempre sonhou. Mas o dinheiro não era o suficiente. Queria mais. Precisava de mais.
Então deu início à investigação que o levaria àquele momento fatídico.
         Comprou a passagem para o Egito, contratou um guia chamado Feijoada Jones (que não era muito bom, mas conseguiram se encontrar), e começou a exploração.
         Após 3 dias no deserto, sob Sol escaldante de 55ºC, finalmente chegou na pirâmide secreta da rainha egípcia Kelly Perry, onde encontrava-se o tesouro. Enfrentou todas as armadilhas terríveis que o caminho oferecia, e finalmente chegou na câmara da múmia, que derrotou utilizando um dispositivo formado por corda, chiclete, palito de dente e anchovas.

         Finalmente, ao puxar a alavanca, teve o corpo coberto pelo ouro fervente derretido, e nesse momento, enquanto se transformava numa bonita estátua dourada, só pôde pensar na sua relação com o dinheiro. La plata. O vil metal. Money. Verdinhas. Ta bom, já entendi, chega.

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