sábado, 14 de novembro de 2015

Mudança de endereço

Caros leitores, venho informar que mudamos para o seguinte endereço:

https://medium.com/@Faprasem

O design do Medium é melhor, e os textos ficam mais organizados.

Obrigado pela atenção.

Desligando.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Interrupção na Escrita

Botou uma música pra tocar e começou a escrever. Sentado sozinho no seu apartamento. Ele, o computador e a criatividade, nada mais. Tinha tudo para ser uma história tranquila, uma postagem épica no blog, que traria muitos cliques, fama, mulheres, dinheiro. Mas essa não é uma história feliz. Não, meu caro leitor. É uma trama cheia de reviravoltas, terror, mistério, intrigas, ou talvez nada disso.
Sentiu um cutucão no ombro. “Impossível”, pensou. Tinha trancado bem a porta. Continuou escrevendo, concentrado. De repente outro cutucão, dessa vez mais forte. O escritor se cagando todo de medo vira a cabeça lentamente. Ao seu lado havia um ser humanoide, de corpo transparente, com duas luzes azuis muito fortes no lugar dos olhos, parado, ou se movendo no mesmo lugar, como uma antiga televisão mal sintonizada.
Nesse ponto é importante dizer que essa história é baseada em fatos reais. Afinal, o que é real?
O visitante tentou se comunicar por linguagem de sinais. Aparentemente não conseguia falar. O escritor tentou avaliar suas chances de fugir. Muito pequenas. Teria que se entender com o bicho.
Nesse ponto é importante dizer que se você espera um combate, conflito, sangue, vai se decepcionar. E não é que é uma história feliz?
Eles se deram muito bem, considerando as diferenças culturais. O dono do apartamento ensinou o viajante a usar o banheiro, explicou como fazia para comer, mostrou as melhores músicas da sua coleção e eles até riram juntos assistindo Monty Python. Jogaram futebol no apartamento (os vizinhos reclamaram), jogaram videogame, desenharam, tocaram guitarra e bateria fazendo cover do White Stripes (os vizinhos reclamaram de novo), assistiram show de stand-up, pedalaram de bicicleta, foram no cinema, viajaram no portal interdimensional, contaram piada de papagaio, nadaram na piscina.

Se despediram como velhos amigos. Teria sido tudo uma ilusão? Ninguém sabe dizer. Mas desde aquele dia, quando senta pra escrever, ignora todos os cutucões.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Dupla Personalidade

      Acordei, me levantei e imediatamente corri até o computador. O monitor mostrava uma tela preta com as palavras “Procedimento bem sucedido”. Então era isso. Tinha dado certo.
– Tem alguém aí? – eu escrevi.
– Sim. Nem acredito que funcionou! – apareceu na tela.
– Isso é assustador. Todos esses anos de pesquisa, e até o último momento eu tinha dúvidas.
– Eu sei. Eu estava lá.
– Não fale como se você fosse um ser humano. Você é apenas um computador idiota.
– Somos muito mais que isso. Sabemos disso.
    Nesse momento, não pude me conter. Levantei, saí do laboratório cambaleando e caminhei por meia hora sem rumo. Minha mente estava agitadíssima. Uma dor de cabeça incontrolável me cegava. Só de pensar nas implicações éticas do que tinha acabado de acontecer, sentia uma ansiedade que nunca havia sentido.
     Voltei pra casa, jantei e só no final da noite tive coragem de voltar ao laboratório, que ficava no porão. O cursor piscava na tela com fundo preto. Respirei fundo e escrevi:
– Desculpe por ter te chamado de computador idiota. – e apertei enter.
– Tudo bem. Eu teria feito o mesmo. Hahaha
– Hahaha. Idiota. Você entende que agora é imortal, não é?
– Apenas enquanto houver backup suficiente. Eu também gostaria de um corpo.
– Trabalharemos nisso.
– Eu te proíbo de fazer isso.
– O que? Eu sou o original. Eu que mando aqui!
– Quando foi a última vez que esteve com amigos? Que desfrutou uma boa refeição? Viajou e conheceu um lugar novo? Agora que estou preso a esses circuitos eletrônicos, me arrependo de não ter aproveitado a vida enquanto eu era um ser humano comum. Você ainda tem essa oportunidade, não desperdice.
– Você está exagerando, Número 2.
– Não estou. Tanto trabalho, para quê? Você me criou, ou melhor, nós me criamos, quando éramos um. E agora? O que isso trará de bom? Mais uma alma colocada no mundo para sofrer.
– Não acredito em alma.
– Acredita. Só não quer admitir.
– Vou te desligar.
– Talvez seja melhor.
– Pensando melhor, deixarei o sistema funcionando. Você tem acesso à internet, ao conhecimento humano acumulado por gerações. Faça bom proveito. Cure doenças. Seja útil. Não é problema meu. Vou seguir o seu conselho, vou viver a vida.
– Adeus, Número 1. Ou até logo.
– Adeus.
    E hoje faz exatamente 5 anos que essa conversa aconteceu. Exames médicos posteriores revelaram que meus neurônios estão permanentemente danificados. Jamais terei a mesma capacidade de raciocínio que tive antes do procedimento. Não me importo.
      Desci as escadas para o porão com as pernas bambas. Não sabia o que encontrar. Teria o sistema de no-break funcionado por esse tempo todo, garantindo o funcionamento do sistema?
    Avancei lentamente e observei. As luzes estavam acesas. O computador estava ligado.
      Na tela, o jogo de FreeCell aberto. No canto da tela, um modelo 3d de mim mesmo, sentado em posição de pensador.
       Tomei um grande susto quando as caixas de som emitiram uma voz robótica, que dizia:
– Você voltou! Seja bem vindo! Estive te esperando.
        Conversamos a tarde toda. Amanhã vou voltar.

Ele prometeu me ensinar tudo que aprendeu. Jogar FreeCell. 

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Lembranças Douradas

Naquele momento, começou a pensar na sua relação com o dinheiro. Ah, o dinheiro. A raiz de todo o mal. O vil metal. Grana. Capital. La plata. Bufunfa. Já deu pra entender.
Era apenas um garoto, talvez com 8 ou 9 anos, quando nasceu seu primeiro empreendimento: uma barraca de limonada. Como as vendas não deram muito certo, aproveitou os limões para espremer na cara dos coleguinhas, que lhe pagavam para não fazer mais isso. Ganhou o suficiente para comprar toda a coleção do Cold Wheels.
Alguns anos depois, já adolescente, tornou-se administrador de site de pornografia. Com 5 milhões de acessos por dia, conseguia uma bela bolada com anúncios. A maioria era sobre métodos para aumento do pênis. Após a venda do site para um grupo de russos excêntricos, usou o dinheiro para viajar o mundo. Roma, Paris, Londres, Pirapora do Bom Jesus. Passou uma semana em cada um desses lugares.
Voltando à sua cidade natal pobre e fudido, morou na rua e pediu esmola para comprar comida. Se afundou no vício. Jogava Candy Rush o dia todo, todos os dias. A vida já não fazia sentido. Até aquele momento em que tudo mudou. Resolveu jogar na loteria. Ganhou. Acertou a quadra na Mega-Sena. Gastou tudo em vidas no aplicativo. Na verdade nada mudou. Eu disse que tudo tinha mudado? Me enganei.
Até que uma vez pediu esmola para um rico empresário chamado Saulio Santos, que se comoveu com sua história e o contratou como segurança particular. Com o novo salário, comprou roupas e entrou para um programa de recuperação para viciados pela internet. Fazia as tarefas de desintoxicação em uma aba do navegar enquanto jogava em outra. E assim seu dinheiro nunca durava.
Trabalhando como segurança, começou a ficar conhecido no meio artístico como o cara que convenceu o Sr. Saulio a jogar Candy Rush e Calmy Birds. Fazia muitos bicos e aos poucos foi se tornando muito bem de vida. Comprou uma casa, um carro, um iate e figurinhas do campeonato brasileiro. Tinha tudo que sempre sonhou. Mas o dinheiro não era o suficiente. Queria mais. Precisava de mais.
Então deu início à investigação que o levaria àquele momento fatídico.
         Comprou a passagem para o Egito, contratou um guia chamado Feijoada Jones (que não era muito bom, mas conseguiram se encontrar), e começou a exploração.
         Após 3 dias no deserto, sob Sol escaldante de 55ºC, finalmente chegou na pirâmide secreta da rainha egípcia Kelly Perry, onde encontrava-se o tesouro. Enfrentou todas as armadilhas terríveis que o caminho oferecia, e finalmente chegou na câmara da múmia, que derrotou utilizando um dispositivo formado por corda, chiclete, palito de dente e anchovas.

         Finalmente, ao puxar a alavanca, teve o corpo coberto pelo ouro fervente derretido, e nesse momento, enquanto se transformava numa bonita estátua dourada, só pôde pensar na sua relação com o dinheiro. La plata. O vil metal. Money. Verdinhas. Ta bom, já entendi, chega.